Como fui triste em 2024 e como vivo um dia de cada vez
O mais difícil do ano, reflexões e revisão anual
um desabafo pessoal em tempos de revisão anual
Eu gosto muito quando começo meu Dezembro fazendo uma retrospectiva do meu ano, revisando mês por mês, escrevendo reflexões e relendo o que escrevi ao longo do ano.
Hoje estava lendo "Tudo sobre Amor” da bell hooks e ela citar Deepak Chopra me deu um quentinho no coração porque a meditação tem sido essencial para mim nesse processo de cura. Não é por acaso que eu passei a virada do ano de 2024 no Vipassana, o retiro de 10 dias de silêncio para aprender a técnica de medicação.
Comecei o ano sofrendo, e confesso que até o 7o sétimo dia do retiro ainda estava difícil, mas como um sopro, isso também passou. No últimos dias eu sentia como se um peso muito grande tivesse ido embora, mesmo com incertezas sobre como seria o meu próximo ano, eu consegui acalmar meu coração.
Eu não imaginava que viver o luto de um término de relacionamento, ainda mais como adulta, seria tão desafiador. Eu pensava que já tinha passado por isso antes e sofrido muito, e minha hipótese era de que como eu lembrava plenamente que a dor um momento passou, essa também passaria rápido. Afinal, a dor sempre passa. Mas em 2024, sem dúvidas, o mais desafiador do meu ano foi lidar com esse luto.
Para uma mulher que ama planejamento como eu, você pode imaginar que eu planejei minha vida nos mínimos detalhes, com idade e metas muito claras. Eu lembro como se fosse ontem quando fiz a minha lista do que esperava do meu parceiro, quantos anos de relacionamento teríamos para nos casarmos e com quantos anos eu teria o primeiro filho e o segundo. Eu lembro de encontrá-lo, comunicar o plano, melhorar o plano e escolher o nome dos filhos. Sim, eu gosto de co-criar minha realidade e eu fielmente acreditava na capacidade de manifestar e construir o amor e a família que planejei.
Eu não podia estar tão errada num planejamento. Ainda me pergunto como eu pude demorar tantos anos para aceitar que aquele planejamento precisava mudar. E principalmente, parar de me culpar no processo de aceitação que eu precisava urgentemente mudar a rota.
Em Novembro de 2023, eu fui chamada para Palestrar num programa de líderes muito reconhecido. Eu lembro de quando desligar a câmera simplesmente começar a chorar de soluçar. Naquele momento eu aceitei. Meu planejamento tinha sim dado errado e eu não podia mais negar isso. Era hora de mudar a rota.
(Palestrar sobre minha história me fez refletir profundamente sobre honrar minha trajetória e me mostrou como eu estava desconectada de quem eu já tinha sido)
“Mulheres frequentemente são diminuídas por tentarem ressuscitar esses homens e trazê-los de volta à vida e ao amor. Eles são, de fato, as verdadeiras belas adormecidas. Poderíamos estar vivendo num mundo ainda mais alienado e violento se as mulheres não realizassem o trabalho de ensinar aos homens que perderam o contato consigo mesmos como viver nova-mente. Esse trabalho do amor só é fútil quando os homens em questão se recusam a acordar, se recusam a crescer. Nesse ponto, é um gesto de amor-próprio das mulheres romper a relação e seguir em frente.”
bell hooks, tudo sobre o amor, p. 192
No dia seguinte, era o Chá de Bebê que eu estava organizando da minha melhor amiga. Foi um dos dias mais quentes do ano em São Paulo e lembro que não conseguimos comprar mais cerveja e acabou que o Chá foi realmente das 14h às 20h (o que para os meu grupo de amigos inimigos do fim, é uma surpresa).
Eu fiquei agradecida no final porque na madrugada seguinte era o dia de tentar me inscrever no Vipassana da virada do ano. Acordei 04h30 da manhã e fiquei atualizando a página até liberar o link de inscrição. Fiz a aplicação mais sincera com a consciência que eu tinha e esperei.
Neste dia seguinte, minhas sócias chegariam em SP e eu iria para um Hotel, participaria da feira social na USP, daria uma palestra presencial, iria fazer networking, participar de evento de aceleração, é se manter ocupada quando você é empreendedora é bem fácil.
Lembro de mandar e-mail solicitando funding para a COP 28 e dois dias depois, no feriado do dia 20 de Novembro, receber um whatsapp de uma representante da organização de Washingon/DC perguntando se poderia me ligar. Eu sinalizei que sim e em seguida ela me disse que teria o funding e iria me encaminhar o formulário para os próximos passos.
Foram os 4 dias mais tristes para mim do meu ano de 2023, ao mesmo tempo, foram dias muito intensos e de muito sucesso do meu trabalho. Eu tinha conseguido: estaria embarcando para a COP 28 em Dubai em menos de 2 semanas. Foi quando bateu o primeiro baque, sabe? aquele de perceber que a primeira pessoa que eu tenho vontade de ligar quando eu recebo uma boa notícia, acabou, não poderia mais ser a mesma pessoa.
Eu fui muito triste em 2024 e fui muito feliz também, mas sem dúvidas o mais difícil desse ano está sendo superar um término de relacionamento. E eu decidi fazer esse texto porque eu sei que essa dor passa como já passou, mas eu também sei que podem existir mulheres e meninas que precisam saber que ninguém é feliz todo o tempo. Que a vida é próspera, abundante e feliz, na mesma proporção que é difícil, cansativa e triste também.
Em tempos de lifestyle, rotinas perfeitas e pouca profundidade. Falar sobre amor, amar e ser amada, ler bell hooks, refletir sobre amor e escrever sobre ele, talvez seja verdadeiramente como eu acredito que pode ser revolucionário.
Neste ano, eu realizei muitos sonhos, chorei, viajei, errei, me arrependi, me julguei, fui muito minha amiga, depois fui minha maior inimiga, voltei a ser minha melhor amiga e a cada dia lembro de agradecer, escrever, meditar e busco estar perto de pessoas que eu amo.
Ter uma rede de apoio e amor, tem sido a parte mais bonita desse ano. O amor da minha família e o amor das minhas amigas tem me salvado a cada dia por me lembrar e relembrar, todos os dias, que o amor é uma ação.
Se 2024 fosse uma palavra, para mim a palavra seria: cura.
Então apesar de sofrer e ser triste, viver um luto, eu sou grata por ter tido forças para continuar. Ter tido estrutura para parar quando não tive mais forças. Ter tido amor para me reerguer. Sou grata por ter condições materiais para poder acordar um dia e mudar a rota. No final do dia, é muito bom ter verdadeiramente a si mesma.
Olhando para tudo que vivi em 2024, eu fico surpresa de conseguir ter feito tanto em meio a dor e sofrimento que vivi. Sou muito feliz de que em Janeiro vi minha sobrinha recém-nascida, em Fevereiro pulei meu primeiro Carnaval em SP solteira da vida adulta, parei de beber, fui para muitos lugares sem estar bebendo álcool, voltei a beber, fiz Limpeza do Sangue Menstrual, mudei para Salvador, morei um mês em Roraima na divisa com a Venezuela, subi a Pedra da Gávea no RJ, fiz meu primeiro pitch em inglês no Palco do WebSummit, tirei férias pela primeira vez com a minha melhor amiga, superei ter vivido um ataque de pânico, conheci Jericoacoara, curti muita praia, visitei minha melhor amiga no Guarujá, visitei o máximo que pude minha família. Parei de dar desculpas, APESAR DE estar triste, decidi não me isolar. APESAR DE estar difícil, eu me permiti ficar em modo de economia de bateria e continuar. APESAR DE não ser a melhor pessoa hoje, eu posso ser minha melhor amiga hoje.
Como é bom voltar, para mim mesma. Um dia de cada vez. Se melhorar, melhora!
Com carinho e coragem,
Patricia Zanella
Que texto profunda, amiga!! Obrigada por se colocar tão vulnerável e compartilhar 💚